HISTÓRIA DE UMA VIDA
A saga
dramática de imigrantes sírios continua atualíssima nestes tempos.
Na
esperança por dias melhores lançaram-se à própria sorte em terras
desconhecidas.
A presente
obra traz um registro, não só genealógico de uma família, mas também histórias
que ilustram bem os passos e rumos de sua imigração.
Vidas que
se entrelaçaram agregando ramos familiares de origens distintas e diversas,
mesclando e unindo valores e sentimentos legítimos que desabrocham do fundo da
alma, sem ostentação ou egoísmo. Verdadeiros e imateriais valores,
virtudes de uma cultura nesse universo de ânsias.
Um belo
registro que, ao mesmo tempo preenche uma lacuna, oferece subsídios para pesquisas
futuras. Um exemplo de rica parcela de contribuição cultural dos sírios à
formação da etnia na diversidade brasileira.
Parabéns,
querida prima Francelina, que desponta como um oásis nesse imenso deserto árido
e ao mesmo tempo riquíssimo culturalmente.
Nossos
laços de amizade com certeza irão estreitar-se e fortalecer ainda mais.
Apesar de
ter pegado o bonde quase ao final da linha, pude acrescentar minha humilde
contribuição. Antes tarde do que nunca. Dentro de minhas limitações, localizei
fotos e documentos em meu arquivo pessoal, selecionei trechos de cartas em
árabe, para tradução, bem como tentei interligar fatos e identificar
pessoas. Tarefas difíceis, das quais Francelina se encarregou com experiência e
qualidade.
Hoje,
observando rompantes e demonstrações de intolerância e xenofobia, fica o
registro desses imigrantes que, com o suor de seu trabalho,
deixaram-nos exemplo de reconstrução de suas vidas com honradez.
Que novos
tempos não sejam de muros, mas sim de pontes para toda a
humanidade.
Elias Abrahim Neto
UM LIVRO PARA O NATAL
(M.
Francelina Silami Ibrahim Drummond)
Sempre me
interessei por histórias de imigração. Em 2015, publiquei o diário manuscrito
do imigrante português Antônio Francisco dos Reis que veio para Ouro Preto,
ainda na época da capital, em 1874. Foi uma grande alegria, depois, fazer o
lançamento da versão portuguesa do livro Terra adotada: relato de um imigrante,
em Portugal. Esse livro possibilitou o reencontro da família lá e cá, separada
pelo mar. Uniu primos e primas e mais descendentes da família Reis em Ouro
Preto e em Aveiro, que se desencontraram havia mais de cem anos. São histórias
emocionantes.
A morte de
minha mãe Zequie em 2017 me estimulou a escrever uma memória sobre ela,
destinada aos netos e bisnetos. Mas como as histórias de migração são
contagiantes, a ideia inicial modificou-se e tomou outros caminhos.
O livro
está pronto. Continua destinado aos netos e bisnetos de Zequie e terá
circulação familiar. Mas somos, pelo lado do avô paterno, descendentes de
Abrão, Ibrahim, Abrahim, ou pai de muitos, e igualmente pelo lado materno viemos
de Miguel que era também Abrão. Então nossa árvore é muito espalmada e
frondosa, o livro chegará a muitos.
Nosso ramo
Silami, Silame, Selameh vem de Marmarita, no noroeste da Síria de onde começou
a emigrar, fugindo do jugo do Império Otomano, sobretudo a partir da segunda
metade do século XIX, buscando respirar alguma liberdade e melhor condição de
vida em outro lugar que não fosse o Levante. A América para uns foi opção, para
outros acaso, desvio de rota. O caso é que paramos no Brasil, nossos antepassados
vieram para o Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Meu livro
História de uma vida acompanha um esboço de árvore genealógica dos Silami,
aborda aspectos da imigração, aculturação e do choque cultural, faz uma
abordagem biográfica de Zequie, através das caminhadas e errâncias de seu pai
Miguel e seus irmãos. Em plano correlato, narra a vida de outro imigrante de
Marmarita, Ibrahim Antônio Silami que se fixou em Acaiaca e Furquim, distritos
de Mariana, MG, foi pai de meu pai Antônio e numerosa família. Em narrativas
paralelas, tento incluir nomes e referências de patrícios que se radicaram
nesta região de Minas, compreendida de Ouro Preto a Ponte Nova.
A situação
atual de pandemia muito me impediu a ida a arquivos e acervos que precisavam
ser consultados pessoalmente. Por isso, há vazios que só a pesquisa mais
aprofundada poderá preencher. Por outro lado, contei com muita informação de
parentes e de amigos, que viveram fatos ou que ouviram contar. E conto com
colaboração de primos de Leopoldina, cidade onde houve maior concentração de
Silami/Ibrahim/Neder entre outros que formam nossa árvore. Essa rede da memória
coletiva certamente foi indispensável aqui, como foi a ajuda de patrícios, que
moram em Damasco e Marmarita.
Fotografias
e desenhos são a composição iconográfica do livro que se completa com a
reprodução de manuscritos.
Espero que
entre nós alguém tome a tarefa de continuar a narrativa, completando lacunas e
ampliando a motivação central, que é situar historicamente a grande aventura e
mesmo o drama da imigração síria para o Brasil.
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Notas:
Graduação
em Letras (PUC-MG); mestrado e doutorado na Faculdade de Letras da UFMG, em
Teoria Literária e Literatura Comparada. Pós-doutorado na Faculdade de Letras –
PUC-RS, com o livro Leitor e leitura na ficção colonial. (2007) Ex-pesquisadora
do Instituto de Artes e Cultura-UFOP. Professora de Teoria Literária,
aposentada pelo Instituto de Letras, da Universidade Federal de Uberlândia.
Coeditora da Editora Liberdade, de Ouro Preto, especializada em textos sobre
esta cidade, nos seguintes títulos: Ouro Preto, cidade em três séculos (2011);
Bernardo Guimarães cronista (2012); O Semeador (2013); A biografia de
Aleijadinho e seu contexto (2014), Série Ouro-pretana: Terra adotada: relato de
um imigrante, Memórias de Ouro Preto, Poesia enquanto costume, Sinos de Ouro
Preto, Da poesia à reportagem (2015); Agenor, o menino do Tripuí (2017); O
velho Cláudio; inéditos de Cláudio Manoel da Costa (2019); De primeiro, na rua
Nova (2020).
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