EXILADOS DO FEIJÃO CRU - TEREZINHA MENEGHITE


Quem é TEREZINHA MENEGHITE? Hoje, professora aposentada, Terezinha estudou Letras na Faculdade Santa Marcelina,em Muriaé, MG,no período de 1971 a 1974. De 1973 a 1992,lecionou Língua Portuguesa e Literatura Brasileira na Escola Estadual Professor Botelho Reis,em Leopoldina ,MG,e de 1993 a 1998,na Escola Estadual Cândido Mota Filho, em Juiz de Fora ,MG. Neta de imigrantes italianos, sempre se sentiu parte dessa cultura.Daí, ao se aposentar,fez um curso de italiano na Casa de Itália em Juiz de Fora,identificando-se muito com o idioma,resgatando todo o amor por seus parentes que um dia, na infância, povoaram seu imaginário. Reconhece seu amor pelas palavras, pela leitura, pela escrita como resultado de muita influência de seu pai ,João Meneghite,homem simples, sem formação acadêmica, porém de grande percepção linguística, assíduo leitor de jornais e grande incentivador da cultura universal. Sua formação escolar tem início lá pelos quatro anos de idade,quando ingressa na Escola ORFANATO DONA LENITA JUNQUEIRA,em Leopoldina, MG.Após um ano de Curso de Admissão ao Ginásio, realizado na escola  particular de Dona Conceição Monteiro, em Leopoldina, ingressa no Colégio Imaculada Conceição ,da Congregação Filhas de Jesus, também em Leopoldina,onde fez o antigo ginásio e o Curso Normal, formação para professora primária. Paralelamente ao seu trabalho de ensinar o idioma nacional,é revisora de textos ,objetivando não encerrar essa atividade tão cedo, pois considera que isso a torna sempre atualizada nas particularidades da língua. Morando em Juiz de Fora, Terezinha se considera uma cidadã do mundo e uma amante das letras para todo o sempre.

                    

CONFISSÕES DE UMA PROFESSORA APOSENTADA

        
   Quando comecei a trabalhar no "Ginásio", eu era muito jovenzinha,tinha apenas vinte anos de idade,um grande respeito pela imponência do prédio e muito receio de ficar lado a lado ,como colega,com os "bambambãs" da educação. Pra se ter uma ideia, Hudson era meu Professor de Inglês na faculdade de Letras. Monsenhor Guilherme, Diretor, era capelão no Colégio Imaculada, onde estudei e, como aluna, era "obrigada", vez ou outra a me confessar. Aluna católica, cumpridora dos rituais do colégio, sempre com ele me confessava, inventando pecados bobos, só pra obedecer aos mandamentos regimentais. Eu, tímida, agora tinha que lidar diariamente com ele,como professora, como subordinada, como colega,lembrando-me da meninice não muito distante, tendo que ter uma postura adulta. Enfim,eu ,uma garota,com uma baita responsabilidade de Professora de Português ,tinha que superar minhas limitações próprias de qualquer início de carreira,ser colega em condições de igualdade e me tornar uma profissional de respeito, tal como aqueles colegas já consagrados em suas cátedras.
       Lembro-me de alguns professores que já estavam em final de carreira, à beira da aposentadoria.Com eles pouco convivi.Mas tive oportunidade de ouvir suas conversas na sala dos professores, as piadas relativas ao próprio desempenho e ao desempenho dos alunos. Era uma lição a cada minuto. Dava um certo medo de não estar à altura daquela" galera".Entre tantos colegas queridos,sempre me vêm à lembrança Bertocchi,João Batista , as irmãs Cidinha e Terezinha Machado,dona Belinha, Zezé Garcia ,Aparecida Costa ,Heloisa Pretinha,dona Guilhermina ,Marcelo Domingues, Zitinho,Wilson Valentim, Margarida Chaves,Waldir Policiano, Wanderley Bella,Glória Barroso, Ademar, as irmãs Cida Brandão e Dalila, Dioneia...
         E o Tebano? Uma pessoa muito querida. A gente se dava muito bem. Certa vez eu percebi que ele multiplicava as mudas dos ipês plantados no jardim interno do Ginásio. E eu comecei a pedir-lhe algumas. Ele ficou numa baita felicidade de encontrar uma parceira na distribuição das mudas. E sempre me procurava para me entregar uma mudinha. Tomara que elas tenham continuado a se multiplicar. Dele também me recordo fazendo redes de pescar. Ele as tecia com cuidado, com a delicadeza de um trabalho artesanal muito belo. Sempre que eu o via tecendo, eu lhe fazia um elogio sincero. Viva sempre em minha memória o Tebano. Estava sempre pronto a me fazer um favor relativo ao meu desempenho em sala de aula.
Lá pelos anos de 1975, Zé e sua esposa Lelé eram funcionários do Ginásio. No recreio, eles vendiam umas coxinhas maravilhosas, feitas por eles. Eu era freguesa assídua. Posso afirmar que até hoje não encontrei um recheio tão cremoso e saboroso como aquele. Nessa época, fiquei conhecendo o trabalho paralelo do Zé: as cadeiras de palhinha. Seu trabalho era muito delicado e bem feito.
Em 1971, comecei meu curso de Letras na Faculdade Santa Marcelina em Muriaé. Na época, fui submetida às provas orais de Inglês e Latim.Não conhecia o Professor Hudson pessoalmente, mas já tinha ouvido falar dele com certa frequência, pois meus irmãos, alunos do Ginásio,eram também seus alunos.Uma coisa é você ouvir de um adolescente sobre um professor ,outra é você, já mais adulto, ser aluno desse professor.Pois foi com Hudson que fiz a tal prova oral. Nunca me esqueci de seu comentário. "Meneghite,conheço seus irmãos. Você não estudou no Ginásio?" Com a minha resposta de que tinha sido aluna do Colégio Imaculada, ele saiu com esta:"Agora percebo o porquê de seu inglês espanholado,você foi aluna da Madre Piedad".Fui aprovada com nota oito. Madre Piedad era uma freira espanhola, ótima professora de inglês e desenho. Com ela tomei muito gosto pelo desenho, mas gostava de suas aulas de inglês também. Enfim, já no curso de Letras, por quatro anos, convivi como aluna com Hudson. Posso afirmar a sua competência e a sua dedicação ao Magistério. Aprendi com ele não só os meandros da língua, como também recebi ótimas dicas de atuação na carreira. Fui sua aluna e depois colega de trabalho e só tenho boas recordações. Com ele, aprendi a leveza do convívio com os alunos e a gostar de gatinhos, seus bichinhos de estimação. E quem não se lembra da carinhosa expressão com a qual Hudson se referia à sua querida Lola:"Benzinho"!? Tenho saudades do Professor Hudson...
"Faça um biquinho, igual a um cuzinho de galinha.... "Me disseram que a Professora de Francês, Dionéia Neto  Baptista, assim dizia em suas aulas.É possível. Ela tinha uma maneira particular, divertida e bastante efetiva de ensinar esse idioma. Trabalhei com essa simpática mestra no início de minha carreira no Ginásio.Era uma alegre convivência.O mais bacana é que ela era bastante amada pelos alunos, respeitada pelos colegas e reverenciada na cidade,principalmente pelo seu curso particular de francês, a Aliança Francesa,onde meu irmão Carlos Luz estudou e só era elogios à mestra.
Heloísa Nogueira, a Heloísa Pretinha ,quando voltava de suas viagens pelo Brasil e exterior, trazia em sua bagagem um vasto material para suas aulas de Geografia: slides, fotografias, livros e muitas histórias .Sempre que eu estava de folga,procurava assistir às suas aulas,que enriqueciam também as aulas que eu ministrava. Um verdadeiro tesouro.
"Menina,fecha o compasso. Menina educada não senta de pernas abertas." Entre outras frases pitorescas como essa, Zezé Garcia ia deixando sua marca pessoal na sua trajetória de Professora de Português. Suas aulas eram muito apreciadas pelos alunos. E não há quem não se recorde de um ensinamento dessa mestra. Era muito comum na comunidade escolar a pergunta: "Pra onde a Zezé irá nestas próximas férias?" Ou então: "Zezé, onde será seu próximo curso? "A resposta era mais ou menos assim:" Fui pra França fazer o curso.... " ;ou :"Cheguei da Grécia onde estudei... " E nossa colega, sempre comprometida com novos estudos, nos desfiava suas viagens internacionais,seus passeios turísticos, suas buscas por novos conhecimentos. Outra marca que Zezé deixou nos seus tempos de Ginásio eram as inúmeras bolsas que carregava consigo, abarrotadas de livros que ela usava como suporte em suas aulas. Uma grande pessoa, uma grande professora, uma grande educadora, uma amiga educada e sensível.
Minhas primeiras aulas de Português foram no Anexo, hoje Escola Estadual Professor  Emílio Ramos Pinto. Em 1973, o prédio era um anexo da Escola Estadual Professor Botelho Reis,mais conhecido como Ginásio. O Diretor era o Professor Luís de Mello Sobrinho, Professor de Português e meu colega de Faculdade, casado com Flora, com a qual também trabalhei, pra meu contentamento, ótima companheira de Magistério. As primeiras experiências a gente não esquece.Falta estrada, falta leitura, falta lastro, enfim são muitas as carências.Mas posso afirmar que todas as dificuldades pelas quais passei nesse meu primeiro ano no Ginásio me deram um grande impulso pra eu dar salto de qualidade no meu desempenho daí pra frente. Os horários das aulas nada motivadores, as turmas superlotadas, a ausência de uma biblioteca adequada,a acústica inadequada,os salários atrasados em mais de seis meses,a distribuição sem regras do número de aulas por professor,tantas outras mazelas perceptíveis,nada tirou o meu desejo de ser professora do Ginásio .Eu sentia a importância de sua presença na cidade e o quanto eu me sentia engrandecida de ser parte se seu corpo docente.
Como disse, o salário dos professores era pago com muito atraso. E como eu era ainda estudante de Letras, numa faculdade particular, salário atrasado era o terror. Mas nem isso me tirava o entusiasmo de querer ser parte da história do Ginásio. Então, me vem à lembrança a figura de Senhor Paulo Lisboa, que, à época de meu ingresso no Ginásio, era o Secretário responsável por contratos de professores, por comunicar-lhes a publicação de documentos no jornal oficial do estado,o Minas Gerais, por entregar papeis, por cobrar outros e também por dar a notícia de valores ,as datas de pagamentos e de possíveis aumentos salariais.Quando "Seu" Paulo me deu o valor de meu primeiro salário, confesso que fiquei numa satisfação danada.Garota, primeiro emprego e precisão de dinheiro, sua fala não podia ser melhor. Muitas vezes recorri aos seus préstimos e lhe fui muito grata.
Foram muitos os que passaram pela Secretaria do Ginásio. Mas com carinho me lembro de três secretárias que sempre me davam explicações para as dúvidas relacionadas à contagem de tempo de serviço, à promoção, ao salário, às notas dos alunos, à documentação exigida, enfim a todo tipo de informação que eu solicitasse: Ady, Júria e Minervina .Ady, irmã do Monsenhor Guilherme, sempre muito delicada, elegante,com um sorriso largo, gostava de falar de seus sobrinhos que também foram meus alunos , Raquel, Rosely e Ronald, e de saber das novidades,de situações cotidianas. Minervina ,era não só uma secretária antenada, mas mãe de Bruno, meu aluno. Daí estarmos sempre trocando alguma informação sobre as tarefas por mim exigidas em sala de aula. E Júria gostava de saber de tudo , gargalhava, brincava e falava da sua querida filha Julinha, que também veio a fazer parte do corpo docente, tornando-se minha colega de trabalho no início de sua carreira.
Para cada Diretor do Ginásio, uma história particular de situações vivenciadas por mim.Trabalhei sob a"batuta" de Monsenhor Guilherme que ,virava e mexia, ficava quietinho na porta ouvindo minha aula. Até que um dia, audaciosamente, convidei-o para entrar e assistir à minha aula. Um aluno trouxe uma cadeira, colocou-a estrategicamente posicionada em minha direção e eu segui minha explanação. Ao final, ele foi generoso, me elogiou e parabenizou os alunos pelo comportamento.E eles, espontaneamente, aplaudiram o inusitado evento.Também fui "regida" por Marcelo Domingues.Como já lembrei aqui nestas Confissões, foi um grande educador e trabalhar com ele sempre foi gratificante.Educado, culto, compreensivo, comprometido, dava aos professores liberdade de expressão, o que passava muita confiança e vontade de fazer mais e melhor. Era assim que eu percebia a sua atuação.Também fui professora de todos os seus filhos.E Marcelo aposenta-se .Interinamente, ocupa a Direção Hormenzinda do Carmo Coutinho, que era minha amiga pessoal, de frequentar a minha casa, de sair pra bater papo,de trocar confidências, de chorar juntas, de fazer planos, enfim uma amiga pra todas as horas.Na sua breve gestão, Hormenzinda comprou o primeiro computador para a escola, uma novidade na época, pois a tão sonhada" era digital" dava seus primeiros passos no Brasil e a internet era apenas uma vaga ideia.Competente para o cargo, agia com comprometimento com a educação: justa, correta, bem informada, respeitada e carreira consolidada. Aí, vem o novo Diretor: Rodrigo Arantes Queirós, com o qual trabalhei por pouquíssimo tempo, pois me mudei de cidade e fui transferida para outra escola estadual. Professor de Educação Física, jovem, Rodrigo formou um time de colaboradores e também deixou sua marca na história do Ginásio. Aliás, oportunamente, rememoro o trabalho de seus pais no Ginásio: Rui Queirós, dentista de formação e Professor de Ciências,com o qual trabalhei por um breve período, e Lília Arantes Queirós, Inspetora de Ensino, figura onipresente e bastante respeitada no meio educacional.
O Ginásio passou por reformas em seu prédio e nesse tempo mudou-se para o antigo prédio da Escola Parque, hoje o reformado prédio do CEFET. As salas eram espremidas nesse local, pois o espaço recebeu muito mais gente do que realmente poderia ter recebido.Foi meio caótico esse período. Mas ,mesmo assim, não deixei a" peteca cair".Nessa época convivi com vários professores por quem nutria muito respeito: Marília França,Cidinha Melo Freitas,com quem tinha estudado, sua irmã Ritinha,as irmãs Dulcineia e Vera Pereira, as irmãs Maria Inês e Rosa Schetini,Graça Machado ,Lucília Barcelos e tantos outros colegas tão valorosos e que sem dúvida iam deixando suas influências em minha carreira.
Figura marcante, sem dúvida, foi Geraldo Bertocchi,Professor de História e Vice-Diretor do Ginásio.Pessoa de temperamento forte, piadista e exigente,autoridade respeitada e com oratória vibrante. Paulatinamente, fui conquistando sua confiança,chegando mesmo a receber elogios sobre o meu desempenho, o que me fez sentir um tanto quanto recompensada por todos os esforços que fazia, me desdobrando em duas escolas . Ele e Terezinha Machado, que eram advogados também, travavam grandes embates relacionados ao Direito. Era muito interessante ouvi-los. Aprendi muito com isso.
Minha atenção vai para Aparecida Costa ,Professora de Português , a quem serei eternamente grata, por todo o apoio recebido no início de minha carreira.Por dois momentos eu a substituí,quando ela se licenciou para ganhar bebê.Em suas duas últimas gravidezes,eu assumi suas turmas de Português. Na época, chamava-se Curso Científico. Eu,com nenhuma experiência, me atrevi a dar aulas de Português para alunos que tinham quase a minha idade, exigentes, com estaturas mais avantajadas que a minha. Fiquei muito assustada com a minha decisão, mas eu não costumava fugir dos desafios,sem falar que precisava muito trabalhar pra pagar minha faculdade. Mas o trabalho me daria oportunidade de deixar minha marca. Eu precisava desempenhar bem o meu papel. Quando fui buscar os livros didáticos e todas as referências bibliográficas com a Cida Costa,mostrei-lhe tais preocupações que me apavoravam.Com sua calma costumeira, que depois passei a observar, me tranquilizou, oferecendo-se para me ajudar em qualquer dúvida que aparecesse durante a substituição,um período de três meses.Devo dizer que o livro didático adotado por ela era muito complexo, com abordagens em Latim e demandava muito estudo da gramática, etc.Dei conta, felizmente, mas "pulei miudinho". E como aprendi Português nesse espaço de tempo!Registro que fui professora de todos os filhos de Aparecida, um total de seis,se não me falha a memória. E ela sempre teve uma palavra de carinho em relação ao meu desempenho, um elogio a minha pessoa e uma gratidão por ter sido professora de seus filhos. Mas eu é que sou grata a essa mestra, doutora em seu ofício, pois sempre me fazia questionar todos os dias as regras de nossa gramática, as nossas estruturas frasais, o nosso rico vocabulário.Obrigada, Mestra Cida Costa.
Falar do Ginásio é falar de Flávia Ramalho, uma moderna professora de História,com quem fiz grandes parcerias ao "desfiar" nossas disciplinas,o que ela chamava de "dobradinha". Eu entrava com os estilos literários e ela desenrolava os fatos históricos correspondentes ao período. Muito gratificante mesmo.Quando Flávia se mudou pra Portugal, essa dobradinha continuou com a Professora Maria Edite França, de saudosa memória, casada com outro colega que tanto engrandeceu o nome do Ginásio, Professor Sérgio França, que fazia grandes "bate-bolas" com Hudson em Inglês,ambos mestres nessa disciplina.
Inúmeras são as histórias de construção do ensino em Leopoldina envolvendo nomes de professores do Ginásio.São tantos os ex-alunos que reverenciam Míriam Calábria, Antônio Carlos,Isabel Mendonça, Ângela Inês Barbosa , Walma Lacerda Macedo,Celina Almeida, Emerenciana Fajardo, Maria Teresa Macieira, Hormenzinda do Carmo Coutinho,Guilherme Neder e sua esposa Regina, Fernando Vargas e sua esposa Norma, Márcio Bruguer, Altina, Rodrigo Arantes, Getúlio Subira, Silvanilde Costa, Cida Fonseca, Cida Vieira, Inesinha Xavier, Maria Inês Farinazzo, Heloisa Pretinha....
Conheci Luiz Antônio Pires,Professor de Matemática,bem no início de minha carreira.Éramos contemporâneos na Faculdade, porém não tínhamos nenhum relacionamento de amizade, que só nasceu quando trabalhamos juntos no Ginásio.Foi então que ele me convidou pra trabalhar na cidade de Argirita,numa escola em que ele era Diretor.Durante sete anos aí trabalhei, consolidando ainda mais minha carreira.Aí também conheci Janice Rossi,professora de Português, que se casou com Luiz Antônio, tornou-se minha amiga e colega no Ginásio.
Em 1980,fui aprovada no concurso para Professor do Segundo Grau, hoje o Ensino Médio. Assumi as disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e minha nomeação foi para a Escola Estadual Professor Botelho Reis, o bem cotado Ginásio. Felicidade maior não habitava meu coração. Foi um período de intenso trabalho, criatividade e conquistas. Um episódio em especial coroou meu trabalho: uma reverência ao poeta Augusto dos Anjos, que viveu um breve tempo em Leopoldina e,morto, está sepultado na cidade.Os alunos do terceiro ano do segundo grau se esmeraram no estudo da vida e obra do poeta. Um grupo fez uma dramatização ,encenando o velório do poeta ,com direito a caixão, velas acesas, padre,viúva e recitação de versos .E, a certa altura, o próprio poeta,levanta seu corpo e recita seus versos, dando ênfase a"Vês?!


Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua ultima quimera.
Somente  a Ingratidão “esta pantera”
Foi tua companhia inseparável!
Acostuma-te à lama  que te espera!
O homem, que nesta terra miserável
Mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo.Acende teu cigarro!
O beijo,amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


E quem fez essa recitação foi o aluno Gilberto Coutinho Rodrigues,mentor do trabalho, com quem me casei alguns anos depois.
Sou grata ao Ginásio, pelos  anos de ensino e por tudo o que me proporcionou:conhecimento, experiência, amigos, bons alunos e boas histórias pra contar.
Monsenhor Chamel,o querido Padre Antônio, sempre abrilhantou o ambiente escolar, com sua fala mansa,sua filosofia, sua erudição traduzida em palavras que atingem todo interlocutor. Foi meu colega de trabalho no Ginásio, marcava sua presença com gestos carinhosos, sorriso terno e palavras de incentivo.
Trabalhei com Marcelo Domingues em duas escolas: CNEC e Ginásio,onde foi meu Diretor.Sempre educado e discreto, Marcelo sabia lidar com seus colegas, colocando-se sempre em igualdade de condições. Entendia de Educação e foi um grande parceiro nas discussões.
Zé Américo Barcelos foi meu contemporâneo na faculdade em Muriaé, quando ele cursava Ciências. Dentista de formação e misto de Professor e Radialista, Zé Américo foi meu Vice-Diretor no Ginásio,onde se munia de autoridade e exigências, sem abrir mão de seu bom humor e piadismo.Certa feita, passando pelo corredor da escola,ouviu um professor "brigando" com a turma, chamando os alunos de incompetentes e " burros ",etc.Não deu outra. Ele foi até o pátio descoberto, recolheu um moitinha de capim,bateu na porta da sala e pediu licença ao professor, dizendo: "Professor, aqui está o material didático de que o senhor  está precisando."Foi uma gargalhada geral. O professor se acalmou e a turma se descontraiu,perdoando os impropérios do mestre.Muitas outras histórias eu vivenciei com esse meu colega, que sempre me apoiou, demonstrando carinho e confiança no meu trabalho. Saudades   meu   amigo.
Tantas são as amizades que construí no período em que trabalhei no Ginásio. Tantas são as pessoas que aprendi admirar por sua seriedade, por sua dedicação e responsabilidade, por seu afeto e respeito pelos alunos,pela busca de conhecimento, pela persistência em acreditar em dias melhores,pelo carinho e amizade dedicados aos alunos. Tantos foram os embates que só nos fizeram crescer profissionalmente. Cada um dos colegas deixou sua marca no meu trabalho. Uns foram mais próximos, outros nem tanto,mas a todos dedico o meu pensamento e a minha gratidão. Entre tantos, nunca é demais lembrar de Cidinha Melo Freitas, de Silvanilde,de Lúcia Coutinho, de Ângela Inês Barbosa, de Sueli Soares,  de Marília Freire,de Terezinha Cabral,de Cidinha Freire,  de Marly Nogueira, ,de Elcy Dutra Moraes, , de Ritinha Freitas,de Gilberto e sua esposa Aída , de Edulce do Vale, de Mariinha Montes, de Maria Ferraz ,de Vera Gouvêa,de Vera Rezende Pereira,de Eliane Reis,de Chiquinho e sua esposa Célia Schettini,de Iolanda Gangussú,de Helenice Silva Nogueira, de Dulcinéia, de Carmen Lúcia Ladeira, de Nely Deo, de Cida Fonseca, de Cida Vieira e.....a lista é extensa...























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