RESGATE DA MEMÓRIA



  O SONHADOR SOLITÁRIO DOS CARNAVAIS


Não há em minha geração quem não conheça Floriano Pinheiro( Foam). Filho de Guiomar Lacerda e Lindolfo Pinheiro- Lolote, descendente  de tradicional família pioneira de Leopoldina, nasceu(1922) e morou durante toda a vida na rua Cotegipe, avenida do samba, vitrine do carnaval.

 Juntamente com seu irmão Maó, devidamente paramentado com  seu quepe e uniforme  cáqui, exercia a função de carregador de  malas, bagagens,que desembarcavam na antiga  estação do terminal ferroviário. Também prestava serviços na antiga rodoviária, que recebia  viajantes e mercadorias da Capital Federal. 

Floriano tinha problema de surdez e usava um aparelho auditivo não só para escutar como também para não escutar e, quando não se interessava por algum assunto ou quando se aborrecia com a molecada que pegava no seu pé, desligava o aparelho.

Era o grande guardião do padrão de comportamento e das pessoas. Sempre antenado ao que se passava ao redor, era intransigente quanto aos desvios de conduta, às regras da moral e bons costumes, especialmente dos namorados, com os quais era intolerante, intrometendo-se e desaprovando os “amassos”, os quais considerava indecência, adotando uma postura de delator e afirmando que iria dar ciência aos pais de tais atos libidinosos, vez que possuía os dados familiares e o endereço de quase todos os jovens daquele tempo. Era o que se pode chamar de “alcaguete”, ou pescoço, como se diz na gíria.

Também sabia do obituário da cidade, sabia de tudo o quanto sua curiosidade demandava, enfim interessava-se por tudo que acontecia na pequena cidade. 

 Amante do carnaval, deixava extravasar suas fantasias ao sabor de acontecimentos locais e influenciado pelos heróis e vilões do cinema:  Batman, Roy Rogers,  Drácula, Faraó, Pirata, Mazaropi e até  presidente. Certa vez, fantasiou-se de Zorro, quando indagou com  ingenuidade: será que vou ser reconhecido?

Figura folclórica, participou desde o início do bloco dos descamisados ( amigos que desprovidos de camisas se reuniam ao som de batucadas , regados a cerveja em frente a barbearia do Fizinho e do Pacífico). 

Solitário folião, sofria bullying da molecada , ao que respondia: “xê, eu  conheço seu pai, xê eu sei onde cê mora”.

Depois da folia, matava sua sede com guaraná no Damas Bar, dos saudosos Kleber e Tunica.

Como um sonhador solitário dando asas à imaginação, vivia e incorporava personagens lúdicos como se fossem reais.



Elias Abrahim Neto
 
Fotos arquivo Almanaque do Arrebol
Fotos arquivo Almanaque do Arrebol



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