NA BUSCA DE UMA NASCENTE




                    
        COMO UM ACIDENTE RENDEU UMA BOA HISTÓRIA.

Elias Abrahim Neto



Alisma - gênero de plantas de brejo e pântanos.
     Há algum tempo , venho tentando realizar um pequeno projeto: fazer um mapeamento e registro das várias nascentes que  formam e alimentam o ribeirão Feijão Cru. Por isso recentemente, entrei em contato com  o proprietário da antiga Fazenda Oriente, atual Fazenda Recordação lá pelos lados de São Lourenço, na Volta das cobras, onde está, provavelmente, uma dessas nascentes. Foi quase um ano de espera, ocasionada por vários imprevistos circunstanciais.
      Enfim, o local é lindo, de difícil acesso, show da natureza em meio à mata. Como guia, a companhia do Sr. Toninho Rosa, roçador de pasto. Iniciamos o trajeto e tomamos a estrada, se é que assim se pode chamar uma trilha de bois, estreita e precária, pasto e mata nativa, galhadas caídas pelo chão, cipós, declives, pedras, buracos e ribanceiras. Quando chove, o local é quase inacessível, pois vira um atoleiro.
     Seguimos no meu veículo. Num determinado trecho, onde a mata se fecha, ao desviar de uma galhada de “espinheiro de arranha-gato”, o carro deslizou e embicou em direção ao brejo à minha direita, numa estreiteza, a quase três metros  abaixo. Um susto! O pneu esquerdo ficou suspenso no ar. Pedi ao Sr. Toninho que, cuidadosamente, abrisse a porta do carro, do seu lado, o do carona que  saísse. Ele estava com a barra  da calça borrada. Tive o temor de que o carro se deslocasse, capotando. Por minha vez, saí fazendo o contrapeso. Consegui abandonar o veículo sem um arranhão, assim como o Sr. Toninho. Que alívio! Nesse esforço, perdi os meus óculos. Fazer o quê?  Seguimos adiante, completando o trajeto a pé.
     Nessa caminhada, percebíamos que o chão se tornava cada vez mais  úmido, preservado pela mata nativa, que fornece um fresco sombreado, pela cobertura de matéria orgânica. Seguimos. Chegamos a um brejo onde me atolei, dos pés quase os joelhos. Enfim, a esperada nascente do ribeirão, tímida, transpirando água em meio a taboas, lírios e folhagens que ali florescem. Mais adiante, o curso d’água se avoluma.
      Já houve tempos melhores. Num abundante brejo alagado, seguimos o trajeto, guiados pelo seu fluxo natural. Uma construção de alvenaria onde, faz tempo, a Copasa captava água, agora canalizada e protegida e é hoje serventia da fazenda.
      Voltamos a pé para a cidade. Somente no dia seguinte retornei para tentar resgatar o veículo com uma junta de dois bois, Navio e Roxinho. Mesmo com  esforço, não foi possível  arredar o carro, piorando mais a situação, pois o veículo quase capotou. Abandonamos  a empreitada. Esse resgate duraria mais dois dias . Parece ficção. Talvez presságio.Teriam os deuses guardiões da mata receio de que a nascente do ribeirão,revelando-se para nós, corresse o risco de se contaminar e se desvirginar, ou desaparecer como tantas outras nascentes, com a destruição das  matas ciliares  e seu assoreamento? Presságio, sinistro, pois uma sequência de  fatos se desenrolou após o “tombamento” do meu carro. Uma camionete, a do resgate, enguiçou-se no meio da estrada e tivemos que retornar à cidade caminhando. O guincho, em seguida, não conseguiu fazer o resgate, devido à posição em que o veículo se encontrava, que só se concretizou no terceiro dia, com  o apoio de uma retroescavadeira; mas essa também, ao chegar no local desse incidente, quebrou o seu eixo de direção, deixando-nos durante quase seis horas tensos, com fome, sede, tédio e esperando pelo auxílio mecânico.


     Enfim, a velha lenda do Feijão Cru, nascida com os tropeiros, em um de seus “pousos” pelas bandas do brejo, onde hoje se encontra  a Igreja do Rosário, rendeu outro pequeno episódio, uma aventura em procura de uma das nascentes do ribeirão. Depois dessa façanha, só dando um tempo. Deixar baixar a poeira, antes de empreender novas buscas.





























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